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sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

ABUSO SEXUAL NA INFANCIA É CRIME DE PEDOFILIA


Hospital das Clínicas inaugura ambulatório para tratar o transtorno de preferência sexual em homens condenados pela Justiça pelo crime de abuso sexual de crianças.
por Andréa Castello Branco,  d’ O Tempo
A prática sexual de um adulto com uma criança aflora os piores sentimentos tanto nos envolvidos com o abuso sexual quanto naqueles que nunca passaram pela situação. Vergonha, culpa, repúdio, nojo são alguns deles. Contudo, a sociedade já percebeu que tratar o assunto de forma emocional não tem dado bons resultados. Agora, além de ser repudiada e punida como um crime, a pedofilia será tratada no âmbito médico.
Violência contra criança No mês de maio [de 2009], será inaugurado no Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Minas Gerais (HC-UFMG) o Centro de Estudos e Atendimento de Abuso Sexual, um ambulatório que irá atender os abusadores.
Pela primeira vez em Minas Gerais, o pedófilo irá receber tratamento para o transtorno de preferência sexual, um distúrbio que integra a classificação internacional de doenças. A única experiência semelhante no Brasil é feita pelo Instituto de Psiquiatria da Universidade de São Paulo (USP), através do Núcleo de Estudos e Pesquisas em Psiquiatria Forense e Psicologia Jurídica (Nufor).
A implantação do ambulatório está sendo coordenada pelo doutor em psiquiatria José Raimundo Lippi, um dos principais especialistas na área de abuso sexual e presidente da Associação Brasileira de Prevenção e Tratamento de Ofensas Sexuais (Abtos). Segundo ele, tratar o pedófilo é uma forma de prevenir um ato que irá causar uma marca que nunca mais desaparecerá da história da criança abusada. Outro forte motivo para tratar o abusador é que, diferente dos outros transtornos de preferência sexual, a pedofilia é transgeracional.
"As estatísticas mostram que a maior parte dos agressores foi abusada na infância", diz Lippi. Dentre elas, está a pesquisa "A Violência Silenciosa do Incesto", feita com homens pedófilos e não pedófilos, que demonstrou que 66% dos pedófilos foram abusados sexualmente. Entre os não pedófilos, esse percentual era de 4%, o que comprova que a violência sexual pode provocar a identificação com o abusador. O fenômeno, observado por Freud, seria um processo inconsciente e impossível de dominar, que obriga o sujeito a reproduzir sequências (atos, ideias ou pensamentos) que, em sua origem, geraram sofrimento.
José Raimundo Lippi explica que o tratamento do pedófilo é feito através da terapia cognitivo-comportamental e medicação. "Se, além do transtorno de preferência sexual, ele tiver um distúrbio de personalidade, então será necessária a medicação porque ele se torna mais perigoso", diz Lippi. Mas a maior polêmica na comunidade médica é quanto a castração química, um tratamento reversível que inibe o desejo sexual.
A doutora em psicologia clínica e coordenadora do grupo Crianças e Adolescentes Vítimas de Abuso Sexual (Cavas), da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Cassandra Pereira França, acredita que a criação do ambulatório no Hospital das Clínicas é um avanço no combate aos crimes sexuais contra crianças.
"O pedófilo é um homem com fixação nas etapas pré-genitais. Ele tem uma perversão. Não interessa ao pedófilo se a vagina da menina não comporta o seu pênis, o que interessa a ele são as preliminares, o sexo oral, os joguinhos. O pedófilo recusa a passagem do tempo, ele quer ficar naquele prazer da infância. Por isso, muitas vezes, ele se contenta em ver fotos, filmes, é uma relação incompleta", diz.
Jefferson Drezett, coordenador do Núcleo de Violência Sexual do Hospital Pérola Byington, referência para esse tipo de atendimento em São Paulo, também acredita que tratar o agressor é um avanço. "Apenas privar a liberdade não vai mudar o comportamento de ninguém. Não adianta apenas retirar da sociedade por um tempo", diz.
Apesar de não haver garantias de que o tratamento terá efeito, segundo o médico, experiências internacionais mostram que, entre as pessoas que não receberam tratamento, a reincidência no crime da abuso sexual é bem mais alta do que entre os que passaram pelo processo terapêutico. Contudo, Drezett é cauteloso quanto a castração química. "Não digo que não deve ocorrer nunca, mas não pode fazer parte da rotina", defende.
Perfil do pedófilo

A destruição da Infância
Abuso envolve grande perversidade e pode ter efeitos dramáticos a longo prazo, como baixa autoestima, incapacidade de vivenciar o amor e passividade frente a novas agressões.
Efeitos devastadores. É assim que os especialistas definem o que acontece a uma criança vítima de abuso sexual. Mas para entender o fenômeno da pedofilia, é imprescindível investigar não só o perfil psíquico do abusador como também a fase psicológica da criança vítima da violência.
Até os 3 anos, a criança tem uma enorme curiosidade sexual. Brincar com o órgão genital, pedir para ver a cor da calcinha da mãe ou do coleguinha, tudo isso faz parte do desenvolvimento psicológico. A partir dos 5 anos, as crianças entram na fase do complexo de Édipo e aí começam as fantasias românticas com o progenitor do sexo oposto. No caso das meninas, a mãe se torna sua principal rival.
"O pedófilo se aproveita da curiosidade e da fragilidade da criança para abusar", explica Cassandra França, doutora em psicologia clínica e professora da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Apesar de desprazeroso, o ato é interpretado pela criança como um simples afeto. O que se segue à cena do abuso é a afirmação do adulto de que nada aconteceu ou que aquele é um "segredinho" entre eles e, quase sempre, a ameaça de que, se contar, a criança será desmentida ou culpada pelo que aconteceu.
"A menina é surpreendida por algo que ela não precisava para resolver o complexo de Édipo e fica aprisionada na culpa. Na maioria das vezes, ela não conta para mãe justamente por estar ‘disputando’ o afeto do pai", diz a professora. A consequência para o futuro dessa criança é o pior possível, pois é na primeira infância que elegemos os modelos de vida.
"O abuso será uma marca no ‘chassi do psiquismo’. Aquilo que estou sofrendo passivamente hoje vou vivenciar ativamente quando adulto", diz. Além disso, a criança irá apresentar auto-estima baixíssima, incapacidade de vivenciar o amor - ela não acredita que pode ser amada pelo que é - e extrema passividade diante de agressões.
Sobrevivência. Como coordenadora do projeto Crianças e Adolescentes Vítimas de Abuso Sexual, desenvolvido pela UFMG, Cassandra tem contato direto com essa realidade trágica e recebe inúmeros relatos das vítimas.
"Uma menina de 7 anos nos contou que as coisas estavam bem mais tranquilas em casa porque, toda vez que o pai vinha, ela mostrava a pontinha do cartão do Juizado da Infância que ela carrega constantemente no bolso para se proteger", conta Cassandra, num misto de orgulho pela esperteza da menina e tristeza pela situação.
Jefferson Drezett é coordenador do Núcleo de Violência Sexual do Hospital Pérola Byington, que recebe as vítimas de abuso da região metropolitana de São Paulo. Para ele, as consequências do abuso variam de acordo com a idade, mas são muito piores do que a violência cometida contra mulheres.
"O abuso da mulher adulta é feito por um estranho, num espaço público e uma única vez. O abuso da criança é praticado no espaço privado, por alguém que ela conhece e confia e de forma recorrente", compara. Uma pesquisa realizada pelo Pérola Byington em 2006 mostrou que 98% dos casos se repetiam. Mais de 60% dos abusos duraram mais de um ano e 10% deles ocorriam há cinco anos ou mais. Entre as adolescentes abusadas, 20% idealizavam o suicídio.
"A dinâmica do abuso envolve uma grande perversidade e tem efeitos devastadores irreparáveis", diz. Para ele, a subnotificação de casos de abuso sexual - estimada em 80% - só deixará de existir quando educadores e profissionais da saúde estiverem treinados para perceber os sinais de violência. (ACB)
vitimas_pedofilia
Depoimento
“Temos que nos despir do medo”
por M.C.C.S.
“No início de dezembro de 2008, minha filha de 16 anos me relatou, através de uma cartinha, que estava sendo explorada sexualmente por um amigo de nossa família desde que tinha 14 anos. Eu, que até então recebia dela cartinhas de afeto – ela gosta muito de escrever bilhetinhos –, me senti arrebatada por uma dor, uma revolta inexplicável. Chamei o pai dela no trabalho e fomos para a delegacia.
Foi um dia terrível, o início de uma batalha a fim de restaurar a integridade física e emocional de minha filha e de punir o responsável por tal barbárie. Eu já notava minha menina triste e deprimida há algum tempo e me esforçava para saber o porquê; não a abandonei nem por um minuto, procurei ajuda especializada e encontrei apoio em muitos anjos em muitos lugares como no serviço Sentinela, no Conselho Tutelar e no Hospital das Clínicas.
O crápula ainda está solto, pois não houve prova material, dado o último dos quatro episódios ter sido em setembro; provas morais de sofrimento e angústia não contam muito na nossa polícia, é fato. O indivíduo não tem antecedentes criminais, ele violentou, coagiu, agrediu minha filha e está livre. Meu marido sugeriu que mudássemos de bairro, não!
Não seremos reféns do crime, não podemos nos acostumar com a violência, nós, mães, mulheres, cidadãos de bem não podemos nos calar, temos que nos despir do medo e clamar por Justiça, assumir os riscos, denunciar as atrocidades, jamais acostumarmos com a invasão do direito, com o crime.
O indivíduo está solto, mas vamos, eu, minha família e os anjos que encontrei no caminho, lutar para vermos efetivada a Justiça e, quando isso acontecer, em breve espero, terei como mãe, mulher e cidadã o prazer de comunicar a vocês.
M.C.C.S. é mãe de uma adolescente que sofreu abuso sexual.

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